ANTÍGONE TEM MEDO DA COMIDA DOS MORTOS (2025)
ANTÍGONE TEM MEDO DA COMIDA DOS MORTOS (2025)
Sinopse
Antígone tem medo da comida dos mortos é "um romance rápido, tão sucinto quanto um poema, feito para aqueles que se abandonam." Escrito a partir da fome: "Ninguém suportará ler uma escritora que não come." Uma Antígone que nã tem um irmão a quem sepultar, há apenas algumas mães e homens pairando sobre o espaço-tempo da cura. Aqui, Instaurado o termo "verbofagofobia" (o medo de comer palavras) resta alguma espécie de vazio com o qual preencher o próprio corpo.
Posfácio, por rivka
Esse livro é "um romance rápido, tão sucinto quanto um poema, feito para aqueles que se abandonam." É um livro em que há recusas, e a primeira delas é a recusão da extensão. A brevidade constitui, por si só, uma espécie de manifesto, algo se inscreve nela.
Para Judith Butler, Antígona desafia as estruturas da política e do parentesco através da linguagem, ao recusar reconhecimento às ordens de Creonte. Ao recusar as ordens de Creonte para sepultar adequadamente seu irmão, Antígona dá preferência à lei do parentesco, em detrimento à lei do estado. Ao fazer isso, porém, ela se torna qualquer coisa de aberrante, qualquer coisa de pervertida.
A Antígone de Luna faz uma recusa ainda mais radical, ela recusa ambas as leis, ela recusa todas as leis. Não há, aqui, irmão a sepultar. A ordem apenas é recusada e cria-se, assim, um vazio. O banquete também é recusado, e o vazio preenche também o corpo. "Verbofagofobia": o medo de comer palavras. Por isso, se recusam ambas, comida e palavras. O que sobra para preencher o vazio? Um caso de amor com alguém que não existe.
A única coisa que do parentesco permance aqui são as mães. Uma, a própria mãe, por quem não há amor. A outra, é a mãe cujo filho não existe. Mesmo essa ideia residual de parentesco está corrompida. Não há poder que possa ser exercido a partir daqui.
O tempo todo há uma anunciação de um "capítulo apaixonado." Pode-se imaginar que o livro é o próprio "capítulo apaixonado." Mas o "capítulo apaixonado" parece ser sempre anunciado, está sempre por vir, mas parece nunca chegar. É essa expectativa, e essa ansiedade constante que dá o tom. É possível perceber que o livro carrega um desejo, porém é muito difícil entender o que é esse desejo, delineá-lo. Porque há abandono, porque há recusa, e com isso restam grandes vazios.
Esse livro é o que resta entre os vazios. É o que resta quando se tem medo do banquete dos mortos.